domingo, 21 de outubro de 2012

Esfera pública - um acesso indispensável mas problemático


 A participação das mulheres na esfera pública, seja em cargos políticos seja em lugares públicos de liderança ou sequer de relevo, ainda hoje é diminuta. Vários fatores explicam esta situação, nomeadamente as crenças culturais prevalecentes acerca dos papéis sexuais e os estereótipos vigentes bem como a situação concreta em que ainda decorre a vida das mulheres.

No mundo ocidental, pretende-se enraizar a crise de valores na mulher e no seu desempenho enquanto mãe e dona de casa. Jornalistas, comentadores e políticos atribuem os males da nação às mães que não cumpririam com as suas obrigações de educadoras e seriam assim responsáveis pela desintegração social. Curiosamente, as mulheres são praticamente excluídas desse debate. A solução para o problema residiria no retorno aos valores tradicionais. Tudo se passaria como se a esfera privada tivesse de ser o suporte da vida da nação, enquanto as decisões que importam a esta seriam tomadas apenas pelos elementos masculinos. Este ideal cultural com as mães tendo a seu cargo a educação dos filhos limita obviamente a participação das mulheres na vida pública, confinando-as à esfera privada da vida doméstica, e reforça o conceito de esfera pública como um domínio do masculino.

Quem defende o retorno aos valores tradicionais pretende que a esfera pública é neutra; mas tal neutralidade é muito discutível. O facto de a ela terem acesso, com uma escandalosa predominância, elementos do sexo masculino afeta de modo decisivo a sua natureza porque uma esfera pública, assim constituída, embora pretenda defender valores universais, acaba por se constituir porta-voz de valores que interessam fundamentalmente à parte da humanidade que representa.

 Por outro lado, no mundo moderno e na civilização ocidental, a autoridade masculina está em crise, não tanto por vitória das mulheres, mas mais pelo facto de os homens terem abusado da autoridade que detinham sobre os elementos da esfera privada: crianças molestadas pelos pais biológicos ou por membros do clero, mulheres ou amantes assassinadas, assédio sexual nos locais de trabalho, são façanhas que põem em cheque uma autoridade que durante muito tempo foi reconhecida, porque vista como protetora dos mais fracos. Muitas mulheres tiveram de lançar mão dos seus próprios recursos e começaram a perceber que a autoridade masculina afinal defendia interesses que as transcendiam; puderam assim denunciar a falácia existente: a esfera pública apenas pretensamente defende valores universais, de facto não pode deixar de reflectir os interesses da parte masculina da humanidade que maioritariamente a constitui.

Por tudo isto, hoje em dia, as mulheres trabalhadoras continuam a enfrentar discriminação, desencorajamento e falta de apoio para as lides domésticas. Em numerosas situações o sucesso profissional dos homens repousa numa retaguarda protegida por mulheres que tomam a seu cargo a tarefa de lhes criarem um ambiente favorável a esse sucesso, ora é exatamente o contrário o que se passa com as mulheres trabalhadoras.

 

 

 

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