terça-feira, 10 de julho de 2012

Para uma teoria da alienação feminina

Ficamos a dever a Karl Marx a exploração do conceito de alienação; mas a teoria da alienação, tal como Marx a formulou, não é aplicável à condição das mulheres enquanto mulheres.
Segundo Marx, o trabalhador é alienado por dois motivos básicos: (1) primeiro porque é despojado do produto do seu trabalho – não tem controlo sobre aquilo que produz – (2)segundo, porque é impedido de realizar as suas potencialidades como ser humano, dado que não participa na organização do trabalho, não controla a sua atividade produtiva e é encarado como mais uma ferramenta que está ali para produzir um produto. A alienação do trabalhador é-lhe imposta de fora e ele sente-a negativamente; implica a fragmentação da pessoa humana e o impedimento de exercer funções especificamente humanas.
Para o trabalhador alienado, o trabalho em vez de ser fonte de humanização é uma função à qual ele quer escapar o mais depressa possível, apenas um fardo que tem de carregar para subsistir, como o animal de carga, alimentado pelo dono enquanto desempenhar a tarefa.

Mas a alienação sofrida pela mulher enquanto mulher – e não apenas enquanto trabalhadora - é diferente da alienação dos trabalhadores e Marx não forneceu instrumentos concetuais para lidarmos com ela. Assim, torna-se necessário construir uma teoria da alienação que a explique.

(1) Em primeiro lugar, a mulher sofre alienação cultural porque é obrigada a assimilar uma cultura para a qual não contribuiu, da produção da qual foi metódica e sistematicamente afastada, cujo objetivo básico é dominá-la; para o percebermos, basta lembrar a linguagem e a carga sexista implícita, a literatura enquanto veículo de misoginia, a ciência e a filosofia, igualmente eivadas de preconceitos sexistas, veiculando uniformemente uma imagem desvalorizada da mulher.

(2)Em segundo lugar, outra fonte de alienação é a objetificação sexual das mulheres, alienadas da sua própria sexualidade, convidadas a verem-se como objetos passivos do desejo de outrem, estimuladas a assumirem um modelo masculino de sexualidade, apresentado como universal. A objetificação sexual significa ser identificada com o corpo, reduzida ao corpo, que como sabemos até tem sido alvo de depreciação pelas religiões, culturas em geral e mesmo pelo senso comum: o ser humano tem corpo, mas a sua dignidade, o seu valor, entende-se, reside na sua mente e personalidade. A objetificação sexual das mulheres é uma forma de empobrecer o seu ser e de o fragmentar.

(3) Por último, mas não menos importante, as mulheres são alienadas do seu próprio corpo que, ao invés de entenderem como um instrumento para conquistarem o mundo e transcenderem a sua condição animal, lhes é apresentado como algo passivo que se destina apenas a ser visto e, em certas condições, a ser apreciado: uma mulher verdadeiramente feminina não corre, não salta, não se arrisca, não é uma «Maria rapaz»; é sossegada, bonita, decorativa.

Todos estes aspetos distinguem a alienação sofrida pelos trabalhadores da sofrida pelas mulheres; (4) mas há um outro, porventura ainda mais preocupante e a requerer explicação pela perplexidade que suscita: enquanto os trabalhadores experimentam a alienação como algo negativo e reagem com a percepção mais ou menos clara de que ela representa uma ameaça à sua identidade como seres humanos plenos, as mulheres, muitas mulheres, são cúmplices da sua própria alienação, não a percebem negativamente e até tiram prazer dela e em muitos casos ainda procuram melhorar a sua «performance», procurando tornar-se mulheres melhores, mais femininas, no que a feminilidade implica de alienação.
Este último aspeto é extremamente importante e uma teoria da alienação das mulheres precisa de explicar. Ora, a chave para a compreensão deste fenómeno parece residir no narcisismo feminino que ao mesmo tempo que resulta da objetificação a reforça e a torna prazerosa já que a mulher tira satisfação erótica do seu corpo enquanto objeto belo.

4 comentários:

  1. Perceber essas amarras como algo positivo ou mesmo "engrandecedor" sempre foi algo que me deixou perplexa.
    Eu questionei esses padroes de gênero desde muito novinha, quando eu comecei a perceber que meus pais (em especial minha mae) me tratava de modo tao dinstinto do meu irmao.
    Eu até hoje nao compreendo como meninas e mulheres ainda aceitam isso como totalmente normal e ainda acham que estao realizando um grande feito!

    Fran

    ResponderEliminar
  2. Marx era um ignorante que pregava a destruição do Estado dando poderes absolutos ao Estado, ou seja, Lógica Nota ZERO.

    Querer usar Marx é realmente pra lá de cretino, só no Brasil ainda se estimula na universidade esse marxismo cultural fajuto, me mostra um lugar onde o Socialismo deu certo.

    Vai em Cuba ver a prostituição infantil aceita pela família...

    ResponderEliminar
  3. alguem sobre o sobrenome desta autora para introduzir como referência em meu trabalho

    ResponderEliminar
  4. Caro Diogo
    Ignorante é voce. Toda a gente sabe que Marx, discorde-se ou não dele, é um autor incontornável. Só mesmo um ignorar para produzir um discurso autoritário e dogmático como o seu. Leu o texto? Você não percebeu que, independentemente da referencia a Marx. está perante um texto argumentativo?

    ResponderEliminar