terça-feira, 15 de maio de 2012

O Síndrome de Estocolmo na relação entre o proxeneta e a prostituta


Porque é que as jovens vítimas de trafico sexual não correm para a policia a denunciar quem as explora?
Withelma Ortiz, atualmente com 22 anos, traficada pela primeira vez quando tinha dez, constituiu um caso paradigmático que iremos referir, designando-a por T.

Com o pai biológico preso e a mãe em parte incerta, T foi adotada por famílias nas quais, como relata, sofreu abusos sexuais e psicológicos. Fugiu a esse meio, aliciada por um homem com promessas sedutoras. Durante cinco anos viveu com esse homem que a obrigou a prostituir-se e que se zangava e a tratava com extrema violência quando a receita não lhe parecia suficiente, mas que em seguida se arrependia, pedia desculpa e acariciava, uma agradável surpresa para quem apenas estava habituada a apanhar.
Quando o chulo foi preso por tráfico de drogas, T recusou testemunhar contra ele. Posteriormente arrependeu-se de o não ter feito, mas nós percebemos que ela foi apenas mais uma vítima do síndrome de Estocolmo.

O tipo de relação que T tinha com o seu chulo envolvia nítida manipulação psicológica muito comum nas situações de exploração sexual, nas quais jovens extremamente vulneráveis são vitimas fáceis de uma mistura de violência e ternura que as degradam para depois as enaltecerem e ficam presas aos seus chulos dos quais se sentem dependentes, num típico caso de afeto mal colocado.
Nestes casos, a conclusão que se pode tirar é que para raparigas e mulheres criadas em meios muito desfavorecidos, a dependência é profunda e, se uma jovem nunca foi apreciada nem teve manifestações de carinho, é muito difícil acusar aquele que, apesar de tudo, pareceu dar-lhe algum.

Em Nova Yorque, alguns anos atrás, ocorreu um incidente curioso que acaba por ter um significado equivalente. Várias mulheres, presas por prática de prostituição, todas oriundas da mesma região, tinham em comum uma tatuagem em diferentes partes do corpo com o nome King Koby. A investigação levou à detenção de Vincent George Sr. e Vincent George Jr., pai e filho, por tráfico sexual. A alcunha do filho era precisamente King Koby; mas as mulheres recusaram depor e recusaram mesmo reconhecer que tinham chulos, apesar de estes, concretamente, como se soube, lhes darem em retorno da “proteção” apenas uns miseráveis dólares para subsistirem.
Com as vítimas de violência doméstica passa-se um fenómeno equivalente. O problema aqui também se liga à dependência económica e emocional das vítimas, relativamente aos seus abusadores .




[1] Texto inspirado no artigo de NATALIE KITROEFF “Stockholm Syndrome in the Pimp-Victim Relationship”


3 comentários:

  1. Ouvi a narrativa de um policial americano num programa de tv, de uma das maneiras com que os cafetões castigam suas vítimas mais refratárias a obedecer-lhes: colocam as mulheres em malões e põe a mala no meio de uma rodovia de alta circulação de veículos, com uma fresta para que a pobre criatura possa enxergar os carros se aproximando em alta velocidade. Depois de alguns minutos, se não foram atropeladas, são retiradas e passam a obedecer sem questionar.

    Para além de toda violencia do tráfico e da prostituição, a grande e única causa das mulheres serem vítimas dessa exploração é a demanda dos homens por sexo pago. Mulheres são traficadas, exploradas, violadas, agredidas, estupradas por homens para que outros HOMENS tenham acesso a seus corpos objetificados e mercantilizados.

    A única e grande causa desse horrendo comércio acontecer com as mulheres é a falta de empatia dos homens para conosco e sua crença de que estamos nesse planeta para servi-los, não importando como isso se concretizará desde que no final os seus desejos sejam satisfeitos. Aliás, não só na prostituição mas tambem na prostituição da pornografia.

    E quando se lê os estudos que apontam que a maioria das mulheres que são cooptadas pelo tráfico e prostituição são mulheres pobres, que sofreram abusos sexuais e físicos na família, vê-se o quadro completo da violencia patriarcal que desde cedo se manifesta na vida das mulheres, contribuindo para que mais tarde a mulher reviva através de outros homens,as violências que sofreram nas mãos de homens de sua própria família. A violencia patriarcal contra as mulheres sempre se perpetua...

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  2. Para quem nunca sofreu ou nunca viveu num ambiente de extrema violência, fica difícil de entender os motivos que levam essas pobres mulheres a ficarem caladas anos e anos.
    Acredito realmente que as jovens pobres sejam as vítimas mais frequentes da violência domestica e exploracao sexual.
    Porém incontáveis vezes já vi mocas e mulheres já com mais 40, bem nascidas e bem criadas, que tiveram acesso irrestrito a informacao e estudo entrarem nesse ciclo quase indestrutível de dependência emocional. Com essas mulheres nao houve violência física (mas muita violência emocional) ou prostituicao todavia elas nao conseguim se desligar de seus parceiros - valia a máxima - "ruim com ele, pior sem".
    Na minha opinao, a culpa nao é unilateral. É uma sociedade inteira que vulgariza, degrada e rebaixa o ser feminino e fazem elas acreditar que sem um homem (por pior que ele seja) elas nao tem valor.

    Fran

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    1. O patriarcado vive e se perpetua na degradação do feminino. Se vivemos numa sociedade patriarcal, ela é construida para que as mulheres sejam sempre o ser inferior, o ser dominado, o ser mais explorado e em contrapartida o homem aquele que domina, que é superior e o que mais explora. Mesmo qndo o homem é explorado por outros homens, tem o consolo de poder se sobrepor a uma mulher, em geral, aquela mais próxima dele.

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