sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Amor e sexo em Schopenhauer

Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um filósofo alemão cujas considerações sobre amor e sexo devem ser conhecidas, dada a potencialidade de misoginia que implicam. Schopenhauer conseguiu dar uma aparência de rigor aos preconceitos mais caros do senso comum, mas nesse aspecto não fez mais do que seguir uma velha tradição que fornece exemplos constantes da misoginia do Canon filosófico. De facto, foi sempre muito apelativo, uma vez enfraquecido o respeito pelos preceitos divinos, “naturalizar” a injustiça social nas suas diversas vertentes:

«Por disposição natural os homens são inclinados à inconstância no amor, as mulheres à constância. O amor do homem decai perceptivelmente a partir do momento em que obtém satisfação; quase qualquer outra mulher o encanta mais do que aquela que já possuiu, ele anseia por variedade. Por outro lado, o amor da mulher aumenta a partir desse momento. Isto é uma consequência do objetivo da natureza que é dirigido para a manutenção e por isso para o maior aumento possível da espécie. O homem pode gerar facilmente para cima de uma centena de crianças por ano, a mulher, pelo contrário, pode apenas trazer uma criança ao mundo cada ano (deixando de lado o nascimento de gémeos). Por isso o homem sempre andará à procura de outras mulheres, a mulher agarrar-se-á firmemente a um homem, porque a natureza move-a por instinto e sem reflexão a reter aquele que alimenta e protege os seus frutos. De acordo com isto, a fidelidade no casamento é artificial no homem e natural na mulher e por isso o adultério por parte da mulher é muito menos perdoável do que por parte do homem, tanto objetivamente por conta das consequências como subjetivamente por conta de não ser natural.”[1]



Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação.

8 comentários:

  1. Tantos anos se passaram após a morte de Schopenhauer (e de tantos outros misóginos como Sao Agostinho, Aristóteles, o imperador romano Flavius Gratianus...a lista é imensa) e essa idéia permanece quase intacta! O que sempre me repugna e me ofende é as explicacoes baseadas em biologismos em uma suposta "natureza" feminina/masculina - como se fossemos incapazes de raciocínio lógico.
    Vale lembrar que os mesmos biologismos foram usados para massacrar índios, escravizar negros, exterminar judeus, queimar "bruxas"(aqui a lista também nao tem fim).

    Fran

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    1. A razão existe para satisfazer os instintos primitivos.

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  2. De facto Fran, as coisas passaram-se dessa maneira, mas o que é mais chocante é que quando no periodo do Iluminismo tudo parecia indicar mudança, veio a mudança sim, mas apenas para substituir a vontade divina pela ordem natural das coisas. Para quem tira obvias vantagens da manutenção do statu quo é muito confortável contar com uma natureza que confirma as suas prerrogativas. Ainda hoje a sociobiologia segue um caminho semelhante com o aval de intelectuais de renome.
    Abraço, adília

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  3. Cómo se nota que Schopenhauer no leyó a Gustavo Adolfo Bécquer. Si los hombres no pudiésemos amar de verdad, el poeta jamás hubiese escrito tan bellos versos.

    Me ha gustado mucho tu entrada, Adilia; y también el comentario de Fran.

    Besos.

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  4. Obrigada, Adília,

    por mais esta oportunidade de pensar e aprender um pouco mais.

    Apanhei por aí que este senhor, na sua velhice, quase ia mudando de opinião acerca das mulheres:

    "Após o já idoso Schopenhauer ter posado para uma escultura de Elisabet Ney, ele teria dito à amiga de Richard Wagner, Malwida von Weysenburg, "Eu ainda não fiz meu último pronunciamento sobre as mulheres. Eu acredito que se uma mulher obter êxito em se retirar da coletividade, ou preferir se desenvolver além dela, não deixará de progredir, até mais do que um homem."

    Ora bem: Lá valor elas têm... só que estão enredadas pela teia da sociedade!

    Um abraço, Adília.

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    1. Acho que isso é um "hoax", parece que só um tal de Safranski escreveu sobre isso

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  5. Obrigada Henrique, já fui ler alguns belos versos de Gustavo Adolfo Bécquer que ainda não conhecia.

    Amiga coruja,
    O nosso homem sempre teve uma relação difícil com as mulheres, a começar pela a própria mãe que o detestava cordialmente, e com boas razões.
    Elisabet Ney deve ter sido uma excepção, era jovem,talentosa e muito atraente e conheceu o velho filósofo na ultima fase da sua vida quando começava a ser conhecido. Provavelmente lançou todo o seu charme para cima dele e o pobre homem não resistiu, uma manobra muito antiga e eticamente discutível mas que dá sempre dividendos.

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  6. Não nego que ele fosse misógino, mas creio que o trecho citado não demonstre isso em absoluto. Ele meramente descreve fatos do mundo, muito deles também afirmados pela ciência atual.

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