domingo, 19 de setembro de 2010

Molly Elliot Seawell - quem eram as anti-sufragistas

Molly Elliot Seawell (1860-1916) nasceu em Gloucester, Virgínia, numa família de ilustre linhagem, descendente dos primeiros colonizadores. O pai, advogado e orador, era primo do Presidente John Tyler, a mãe, nativa de Baltimore, era filha do Major William Jackson que tinha combatido na guerra de 1812. Passou a infância e juventude na mansão da família, na plantação The Shelter, e ela própria relata o estilo de vida aí adoptado como sendo mais parecido com o do século XVIII. O pai, homem culto e erudito, orientou a sua educação, estimulando-a a ler livros de história, enciclopédias, Shakespeare e os poetas românticos.
Com a morte do pai, quando ela mal tinha completado os vinte anos, a família transferiu-se para Washington onde Molly iniciou a sua carreira literária, começou a publicar novelas sob pseudónimos mas também ensaios e artigos. Nunca casou e levou uma vida activa e auto-suficiente.
Embora culta, independente e senhora da sua própria vida desde muito nova, revela uma visão socialmente conservadora, mesmo reaccionária, em relação às mulheres e aos negros. Nas obras de ficção, denuncia racismo mais ou menos aberto, expresso num tom condescendente e paternalista que se revela nas descrições que faz das personagens negras.
A sua atitude em relação ao casamento é convencional, apresentado como uma espécie de destino para a mulher a que todavia ela se conseguiu eximir pois nunca casou nem teve filhos.
Sempre manifestou hostilidade em relação ao feminismo e ao voto para as mulheres, considerando que nelas a faculdade criativa está completamente ausente. Tem mesmo um ensaio a que deu o título "On the Absence of the Creative Faculty in Women"; argumentou contra a concessão de voto para as mulheres em artigos e no livro The Ladies' Battle (1911), defendendo o velho chavão de que as sufragistas odiavam os homens e de que tinham tendências socialistas e até comunistas, como vemos um velho argumento para diabolizar as feministas que ainda hoje colhe.
São dela estas palavras reveladoras do «apreço» em que tinha as mulheres:

“ Tem de reconhecer-se, como uma proposição geral, que nunca nenhuma mulher fez o que quer que seja no mundo do intelecto que tenha revelado o germe da imortalidade. Isto equivale a dizer que o poder criativo está completamente ausente na mulher.” Critic, 292

“É um facto singular que todas as mulheres cuja pretensão ao génio tem sido seriamente considerada gozaram de enorme reputação na sua época – mas é chocantemente verdade que a posteridade em nenhum caso endossou esse veredito dos contemporâneos “ p.293

«Durante milhares de anos, as mulheres cozeram pão, lavaram e costuraram neste planeta – e, mesmo assim, todos os mecanismos para aligeirar o seu trabalho foram postos nas suas mãos pelos homens … as mulheres, deixadas a si mesmas, teriam permanecido na barbárie.” 294

Como vemos, uma lídima antepassada da não menos ilustre Camille Paglia que nos nossos dias, em Sexual Personae, escreveu:” Se a civilização tivesse repousado nas mãos das mulheres, ainda estávamos a viver nas cavernas” p. 38

Mas o livro no qual de forma mais persistente ataca o sufragismo é o The Ladies' Battle utilizando argumentos constitucionais e ataques ad hominem .
Diz ela que votar não é um direito é um privilégio e, enquanto tal, deve ser concedido apenas àqueles que o merecem, no caso vertente, os homens porque são só eles que podem pela força assegurar, se necessário, o cumprimento das decisões que foram objecto de votação.
Acrescenta ainda que com o voto as mulheres perderiam o privilégio de serem sustentadas pelos homens; aqui também estamos perante um argumento que, devidamente reciclado, será retomado por Phillys Schlafly, setenta anos depois, quando empreendeu a luta contra o ERA: se as mulheres tiverem os mesmos direitos, então os homens deixam de se sentir na obrigação de as protegerem.
Os ataques ad hominem às sufragistas carreiam a velha alegação de que elas são ignorantes quanto aos problemas da governação, não percebem nada de política e estão a colocar em risco a santidade do casamento dado que o voto das mulheres pode semear a discórdia na família.

Sem comentários:

Enviar um comentário