segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Dilma para a presidência, SIM


Motivada pela leitura do último texto do blog Maçãs Podres, vou discorrer hoje a propósito da actual campanha para a eleição da presidência da república brasileira, referindo de passagem as próximas eleições legislativas em Portugal. Este texto vem a propósito da tendência de alguns sectores da esquerda que apelam para que não se vote com o argumento de que mesmo a candidata mais à esquerda não o é suficientemente.

Acontece que, por vezes, pessoas, desiludidas com a esquerda e suas promessas não cumpridas, feridas com as contradições entre o ideal e a prática, angustiadas com a experiencia de governantes que afinal também se revelam corruptos, resolvem não votar ou votar em candidatos da direita. Quando isto acontece, poderia dizer-se que procedem como aquele tolo da história que, chateado porque lhe roubaram os sapatos, resolveu cortar as pernas. E a experiência em breve mostra a essas pessoas o erro que cometeram, mas então já é tarde e não tem volta.
O facto é que se pessoas cujas intenções e princípios nos parecem mais correctos nos desiludem o que é que temos a esperar de outras cujas intenções e princípios logo à partida nos parecem incorrectos, será que acreditamos em milagres?! Partidos ou candidatos democratas com ideias progressistas e partidos ou candidatos conservadores com ideias reaccionárias não são tudo a mesma coisa, não são o mesmo, confundir é arriscar-se a ser surpreendido desagradavelmente pela dura realidade.

Em relação a Portugal, entre um partido socialista que governou sem brilho nem sucesso, com vários escândalos à mistura, mas que mesmo assim, conseguiu a descriminalização do aborto, legitimou a união entre pessoas do mesmo sexo, garantiu o rendimento de inserção social, alargou a escolaridade a camadas da população antes marginalizadas, legitimou o divórcio sem culpa, e um outro que, expectavelmente, se tivesse estado no governo, nada disso teria feito, porque se mostrou sempre avesso a esses avanços, eu não tenho qualquer dúvida. E você, que se diz de esquerda, o que vai fazer, vai procurar os sapatos ou prefere cortar as pernas?

Também nos Estados Unidos, no início da década de oitenta do século passado muitas pessoas de esquerda, liberais e progressistas, desiludidas com os democratas e desconfiadas de um candidata pífio, o evangélico Jimmy Carter, não só não se envolveram na campanha presidencial nem tentaram influenciar a opinião pública como resolveram não votar e o resultado foi a ascensão do execrável Ronald Reagan que esteve oito anos no poder e que procurou por todos os meios destruir as conquistas obtidas com tanto esforço nas décadas anteriores, alem de que criou condições para a direita religiosa fundamentalista se instalar nos bastidores do poder.

Por isso, hoje, o meu apelo é para que se vote em Dilma Rousseff, a candidata que oferece melhores garantias de governar promovendo medidas progressista que irão permitir avanços significativos

5 comentários:

  1. A questão que refere e principalmente a relação com as eleições em Portugal não está completamente bem colocada. As políticas seguidas pelos governos não podem ser retalhos, uns de índole socialista e outros de índole contrária. Em nome do socialismo (porque quem está no governo é o partido socialista1) o governo português comete verdadeiros atentados aos direitos de quem trabalha defendendo claramente uma economia capitalista. Qualquer partido de direita não faria melhor! Aliás o problema de afirmação do PSD é exactamente porque o partido do governo governou com as políticas de direita não deixando espaço a que eles sejam uma alternativa. Além disso a corrupção em portugal atingiu as raias do "muito perigoso" pois conseguiu pôr em causa o funcionamento da justiça...

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  2. Bem Ana, o que voce diz até pode estar correcto, só não percebo se anteve alguma alternativa. De resto como é que se pode governar actualmente sem se comprometer com o capitalismo, os unicos partidos de esquerda que podem falar de palanque são os que estão no palanque, ora o que eu disse foi que apesar de tudo entre um PS que pelo menos do ponto de vista social não foi conservador e um PSD que seria conservador a todos os níveis eu prefiro os primeiros, porque com os segundos corremos o risco de perder as conquistas sociais alcançadas. Sabe é que a implosão da União Sovietica veio limitar imenso a margem de manobra das esquerdas que agora praticamente só conseguem afirmar-se no plano do social, mas isso também é importante e sobretudo é o que agora se pode fazer.
    Abraço Adilia

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  3. GOSTARIA DE INFORMA-LA CARA AMIGA QUE ESTA PESSOA EM QUESTÃO DILMA ROSSETI NO PASSADO BRASILEIRO FOI UMA GUERRILHEIRA QUE NADA ACRESCENTOU AO PAIS E QUE NA VERDADE ESTA SE ELEGENDO PARA ENCOBRIR AS FALCATROUAS DO GOVERNO ATUAL QUE É DO MESMO PARTIDO DELA....

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  4. Adília,

    chego aqui para ler sua lúcida reflexão e me deparo com profícuo debate que você sustenta com a mesma propriedade do texto.

    É lamentável que pessoas se peguem apenas por fatos sem análise de conjuntura para esconderem (ou explicitarem) uma falta de compreensão de Processo. É exatamente o que vem acontecendo com a direita raivosa do Brasil que, com todos os meios, se manteve e insiste em se manter.

    Quando ficamos sabendo que os "meios de produção do país (Brasil) pertencem a 6% da população" - http://www.oeconomista.com.br/livro-mostra-que-meios-de-producao-do-pais-pertencem-a-6-da-populacao - compreendemos bem o nervosismo e os gritos, inclusive em "caixa alta".

    Sobre Portugal, não estou acompanhando o que se passa e, nessa matéria, prefiro confiar em sua lucidez.

    Forte abraço do Brasil, do Rio de Janeiro.
    Ana

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  5. Ana
    Muito obrigada pelo seu comentário que enriquece a compreensão do problema. De facto eu já me tinha apercebido da disparidade entre os rendimentos da maioria e os de uma elite privilegiada, mas a apropriação dos meios de produção por apenas 6% da população é obra. E a maioria das pessoas não se apercebe do que isso significa em termos de liberdade de facto, não percebe que quem tem os meios de produção a essa tão elevada escala domina todos aqueles que apenas dispoem da sua força de trabalho, seja física seja intelectual, que para sobreviverem precisam de se ajustar e aceitar os termos que a minoria impõe. Aliás a separação entre o trabalho físico e o intelectual, este ultimo mais bem remunerado, continua a ser fonte de divisionismo e não ajuda a encontrar uma estrategia comum para contrapor a quem detem os cordelinhos do poder.

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