segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sexualidade e ética

A forte carga erótica e o glamour com que é representada a submissão sexual da mulher neste cartaz publicitário pode ajudar a compreender melhor o tema que hoje aqui trago. O belo e lúcido texto de Sandra Lee Bartky, a seguir apresentado, questiona-se sobre o conflito que as mulheres, e mais particularmente as feministas, podem vivenciar entre a sua vida sexual – comportamentos, desejos e fantasias - e os princípios éticos de autonomia, igualdade e liberdade pelos quais querem pautar as suas vidas; nele a autora aponta o caminho possível para a resolução deste conflito:

«Ser um ser sexuado e ao mesmo tempo um agente moral pode na verdade constituir um elemento perturbador; não admira que os filósofos tenham desejado que nos pudéssemos ver livres da sexualidade. Que fazer, por exemplo, quando a estrutura do desejo entra em conflito com os princípios da pessoa? Esta é uma questão difícil para quem quer que seja consciente, mas é particularmente pungente para as feministas.
Uma contribuição teórica fundamental da análise feminista da opressão das mulheres pode ser apreendida através do slogan «o pessoal é político». O que este significa é que a subordinação das mulheres pelos homens é pervasiva: que ela regula as relações dos sexos em todas as áreas da vida; que uma politica sexual de dominação está em evidência tanto nas esferas privadas da família, da vida social comum e da sexualidade como nas esferas públicas do governo e da economia. A crença de que as coisas que fazemos no seio da família ou na cama são ou naturais ou simples função de idiossincrasias pessoais de indivíduos privados é mantida como uma «cortina ideológica» que esconde a realidade da sistemática opressão das mulheres.
Para a feminista duas coisas decorrem da descoberta de que a sexualidade também pertence à esfera do político. A primeira é que o que quer que faça parte da sexualidade – não apenas o comportamento sexual, mas também o desejo e as fantasias sexuais – tem de ser compreendido com relação a um sistema mais amplo de subordinação. O segundo é que a sexualidade deformada da cultura patriarcal deve ser deslocada do domínio escondido da «vida privada» para a arena da luta, onde uma sexualidade de respeito mútuo «politicamente correcta» irá conflituar com uma sexualidade «incorrecta» de domínio e submissão.»
Sandra Lee Bartky: «Femininity and domination: Studies in the Phenomenology of Oppression», Routledge, 1990, p. 45

2 comentários:

  1. Olá, tenho acompanhado seu blog há uns três meses e considero-me sua admiradora, por sua clareza de raciocício. O que tem me chamado a atenção, nos últimos anos, é o que eu chamo de "Machismo Científico", ou seja, ciências como Antropologia e Biologia, estão tentando dar um respaldo ao machismo. E isto é observável nesta resenha do livro "Mulher Nua- Um estudo do Corpo Feminino" de Desmond Harris
    http://www.bhservico.com.br/mulher.htm
    Perdão pela foto, um tanto indiscreta que há em tal artigo.

    Grata!

    Fabiane T. Ahlmann - Rio de Janeiro - Brasil

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  2. Cara Fabiane
    Tenho postado varios textos sobre o papel que as ciencias tem desempenhado no processo de opressão da mulher. Claro que de modo nenhum rejeito o notável contributo que tem prestado em diversos dominios, mas tambem não me inibo de denunciar os preconceitos que frequentemente falam mais alto que o rigor da investigação. Encontrei este post no meu blog que os denuncia, tenho muitos mais mas este foi o que para ja me apareceu:http://sexismoemisoginia.blogspot.com/2010/01/preconceitos-cientificos-ontem-e-hoje.html
    Obrigada pelo link que me indica.
    Abraço adilia

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