sexta-feira, 16 de julho de 2010

O sufragismo norte-americano

Podemos considerar a Convenção de Seneca Falls em 1848 - na qual participaram cerca de 300 pessoas, das quais 40 eram homens - como um marco na história do sufragismo norte-americano. Nela, Elizabeth Cady Stanton, parafraseando a Declaração da Independência dos Estados Unidos, numa proclamação que ficou célebre – a Declaração de Sentimentos e Intenções - formulou a reivindicação do voto para as mulheres e exigiu o fim da discriminação com base no sexo.
Antes de Seneca Falls, as feministas já se tinham envolvido em movimentos tendentes à morigeração dos costumes, como o Movimento da Temperança que visava a proibição da venda de bebidas alcoólicas, cujo consumo, frequentemente excessivo, despoletava atitudes de violência doméstica cujas principais vítimas eram as mulheres e as crianças. Apoiaram também o movimento abolicionista e a participação que nele tiveram despertou com certeza as suas consciências para a própria injustiça da situação que viviam enquanto mulheres desprovidas dos direitos mais elementares, sujeitas à autoridade de maridos e de pais frequentemente tirânicos e abusadores. O debate sobre os direitos dos negros e a campanha para a abolição da escravatura levou-as a descobrir o seu próprio estatuto de autênticas «servas domésticas».
Um episódio ocorrido na época, numa reunião internacional, em Londres, em 1840, para debater a abolição da escravatura, mostra bem a discriminação que as mulheres tinham de enfrentar; neste fórum que se propunha lutar pela libertação de seres humanos oprimidos por leis iníquas, ironia das ironias, as delegadas femininas foram impedidas de usar a palavra.
Embora a reivindicação do direito de voto fosse o ponto fulcral do movimento, feministas, como Elizabeth C. Stanton e Susan Anthony, pelas campanhas que lideraram, conseguiram que a lei do divórcio, que até aí só podia ser requerido pelo marido, fosse alterada e que o regime de propriedade , que retirava às mulheres a capacidade legal de possuírem ou mesmo de administrarem os bens, inclusive os herdados, fosse modificada.
A reivindicação do voto, apresentada desde 1830, só começou a surgir com frequência a partir de 1860. No Reino Unido, Stuart Mill em 1867 apresentou no Parlamento, na Câmara dos Comuns, uma proposta nesse sentido que foi derrotada. Nos Estados Unidos, o direito só foi reconhecido constitucionalmente em 1920 e mesmo assim apenas para mulheres com idade superior a 30 anos; só em 1928 foi reconhecido nos mesmos termos em que era permitido aos homens.
A aquisição dos direitos políticos foi apenas um primeiro passo no sentido da emancipação, muito ainda precisava de ser feito, pois como bem sabemos, não se mudam mentalidades por decreto.

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