domingo, 2 de maio de 2010

O papel do anti-feminismo nos nossos dias

Hoje, o anti-feminismo é a melhor estratégia para defender os interesses das classes dominantes que pretendem continuar a manter as hierarquias sociais, e, consequentemente, a sua hegemonia; classes que se inscrevem politicamente na direita conservadora e até na extrema-direita - intrinsecamente antidemocratas, mas que não o podem declarar abertamente porque deixou de ser politicamente correcto fazê-lo. Por contraponto, nos países em que a democracia está mais desenvolvida e consolidada como acontece em alguns países da Europa, particularmente, nos países nórdicos, o anti-feminismo é muito pouco expressivo, o que pode levar a supor que o maior desenvolvimento que esses países apresentam, com índices mais elevados de bem-estar e de justiça social, reflecte precisamente a situação mais equitativa existente entre mulheres e homens.

Mas vejamos por que é que o anti-feminismo é uma boa estratégia para defender os interesses da direita conservadora. O anti-feminismo apresenta enormes vantagens: encobre por um lado uma agenda escondida que não convém revelar – não convém mostrar abertamente que se pretendem manter privilégios de classe e hierarquias sociais; por outro lado, atrai para as causas da direita um número muito significativo de mulheres que nem sequer percebem que estão a fazer esse jogo, mas que serão soldados rasos perfeitos para empreender, se necessário, combates cujo protagonismo pode não convir aos homens; também exerce forte poder de atracção sobre inúmeros homens que, embora possam pertencer às classes desfavorecidas, vão continuar a ter alguma sensação de poder, quanto mais não seja, de poder sobre as mulheres em geral e sobre as suas mulheres em particular, o que não é de todo negligenciável.

É curioso constatar que não só as líderes como as anti-feministas em geral se enquadram politicamente na direita conservadora e votam as políticas propostas por essa direita, claro que são acompanhadas por muitos homens, mas seria de esperar que, enquanto mulheres, dela se distanciassem, o que não é o caso. Podemos exemplificar com a recente candidata republicana à vice-presidência dos Estados Unidos, à época Governadora do Alasca, mas também Miss Alaska em 1982, Sarah Palin. Sarah Palin representa uma mais-valia para um partido de direita porque, sendo uma mulher, uma mulher com algum protagonismo, uma mulher bonita, defende tudo aquilo que impede as mulheres de se afirmarem num mundo que ainda é de supremacia masculina.

Sobre ela escreveu em 2008, Gloria Steinem, quando estava no auge da campanha eleitoral norte-americana:

«Acredita que o criacionismo deve ser ensinado nas escolas públicas, mas não acredita no aquecimento global; opõe-se ao controlo de armamento, mas defende o controlo do governo sobre os ventres das mulheres; opõe-se à pesquisa com células tronco, mas aprova programas de «abstinência apenas» que aumentam o número de nascimentos indesejados, de doenças sexualmente transmissíveis e abortos; tentou usar os milhões pagos pelos contribuintes para um programa estatal de abate de lobos a partir de helicópteros, mas não gastou o dinheiro necessário para melhorar um sistema escolar estatal com o mais baixo nível de graduação liceal da nação. (…) Ela é Phyllis Schlafly, apenas mais nova.
(…) Diz que se uma das suas filhas ficasse grávida em resultado de violação ou incesto, cuidaria da criança. Não apenas se opõe à liberdade reprodutiva como um direito humano mas sugere que ela implica aborto, sem dizer que ela também protege o direito de se ter uma criança.

Mas não são só homens e mulheres de direita que são anti-feministas, para complicar ainda mais a cena, muitos homens, embora liberais de esquerda em termos políticos, comportam-se como os seus confrades de direita no que às mulheres e aos seus direitos concerne.
Por outro lado o anti-feminismo tem o apoio declarado dos sectores religiosos, sobretudo dos mais conservadores e como de longa data as mulheres se refugiaram na religião na esperança de encontrarem algum alívio para as injustiças que têm de suportar, é-lhes difícil não se deixarem manipular por um mecanismo ideológico que tem funcionado como um dos suportes do sistema de supremacia masculina, responsável pela opressão das mulheres.

Por tudo isto as coisas avançam muito devagar e estamos sempre em risco de sofrer retrocessos. Também por tudo isto, a consciencialização de homens e sobretudo de mulheres para estas questões é muito importante, embora seja uma tarefa extremamente difícil porque, entretanto, a desinformação faz o seu trabalho muito bem feito, tendo ao seu serviço recursos inumeráveis que vão dos púlpitos aos programas televisivos e uma vasta audiência sempre pronta a absorver as mensagens que importa fazer passar a fim de se manter o status quo.

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