segunda-feira, 3 de maio de 2010

Feminismo da Igualdade – uma fachada moderna para o velho anti-feminismo

As mulheres que dizem defender o feminismo da igualdade (Equality Feminism) são cultas, bem sucedidas profissionalmente, politicamente conservadoras ou ex-feministas desiludidas, que se apropriam da linguagem e do estilo das feministas, mas, que, na realidade, são anti-feministas não assumidas. Publicam livros, escrevem em revistas académicas, as mais telegénicas transformam-se rapidamente em estrelas televisivas e organizam-se em associações como por exemplo, a WFN: Women´s Freedom Network e a IWF: Independent women’s Forum. São mulheres como Rita Simon, fundadora em 1993 do WFN ; Danielle Critenden, directora do Women’s Quarterly, Christina Hoff Sommers, autora do livro Who Stole Feminism?, subsidiado e promovido por fundações conservadoras, presença constante em inúmeros Talk Shows televisivos; Laura Ingraham, dissidente feminista; Laura Schlessing que não desiste de flagelar as mães de crianças pequenas que trabalham e ainda a não menos mediática Camille Paglia que assume um discurso modernaço para pescar em águas turvas.
As feministas da igualdade defendem, por exemplo, que as mulheres, enquanto classe, não são vítimas de opressão, esta, em sua opinião, apenas atingiria indivíduos; ignoram assim todos os mecanismos sociais opressivos e negam o próprio sexismo. Repudiam pois um contributo fundamental do movimento feminista que nos anos setenta revelou precisamente que é a sociedade e o modo como está estruturada a vida social que é opressiva para as mulheres, não são indivíduos isolados que oprimem, também casuisticamente, algumas mulheres, são os arranjos sociais que beneficiam e promovem a supremacia masculina e, portanto, o que é preciso é que se operem mudanças nesses arranjos sociais.
As mulheres, dizem-nos, não precisam de tratamento especial para serem bem sucedidas; nesta conformidade abominam o sistema de quotas, isto é, a discriminação positiva, esquecendo que de facto, socialmente, elas próprias já foram favorecidas, de alguma maneira, já foram objecto de discriminação positiva, seja pelo facto de terem nascido em determinadas famílias, de terem relações sociais muito conveniente com quem detém o poder, de terem tido acesso a um determinado tipo de a educação e instrução. Em sua opinião as mulheres não devem ser protegidas por quotas, antes devem lutar e competir em igualdade de circunstâncias com os homens, esquecendo que as circunstâncias não são exactamente as mesmas para uns e para outras e que ainda há, mesmo no Ocidente, inúmeras desvantagens de género que seria de elementar justiça procurar ultrapassar.
As feministas da igualdade não são solidárias com as mulheres em geral e muitas vezes até procuram desvalorizar os factos que mostram como as mulheres enfrentam desigualdades de género, assim por exemplo como refere Jean Hardisty:

«Quando tomam um «mito» como o da relativa relutância das mulheres em comprometerem-se em actos violentos, parecem deliciar-se em o contrariar com histórias e estatísticas que mostram as mulheres como perpetradoras de crimes e de violência.»[1]

Segundo as feministas da igualdade, a violência doméstica não tem as proporções que as feministas lhe atribuem e encarniçam-se em prová-lo, esquecendo que o que seria realmente útil seria denunciar a violência doméstica, que é um facto irrefutável e avassalador, em vez de tentar menorizar a sua dimensão e impacto na vida das mulheres.
Segundo as feministas da igualdade, o assédio sexual no local de trabalho também é uma invenção das feministas que prejudica os homens e esta posição é-lhes muito útil pois como também refere Jean Hardisty:

«É ainda muitas vezes verdade que a solidariedade para com as outras mulheres é uma fórmula segura para falhar num local de trabalho dominado pelos homens. As feministas da igualdade juntaram-se ao clube dos homens, mostrando o cartão de macho em todas as oportunidades, ultrapassando no processo o limiar da decência. Quando atacam o trabalho das feministas em relação ao assédio sexual argumentando que as feministas exageraram a sua importância (e como resultado os homens são oprimidos) estão absolutamente a carácter.»[2]

Claro que as feministas da igualdade, enquanto membros de uma elite, gozam de uma situação de privilégio e mais, só têm o protagonismo que têm, com acesso aos meios de comunicação e à expressão do seu próprio pensamento, com estilos de vida activa que decorrem fora dos limites estreitos da domesticidade, porque antes delas houve muitas mulheres, as feministas - que elas desprezam, que lutaram por isso, pela igualdade de educação e de oportunidades; são hipócritas e mal agradecidas. São mulheres com graus académicos e com carreiras profissionais bem sucedidas, curiosamente em alguns casos essas carreiras foram construídas às custas das feministas, pois só lhes dão a audiência que dão porque elas atacam o movimento feminista. É muito conveniente apresentar as próprias mulheres, sobretudo se são jovens e charmosas, a proferirem discursos anti-feministas, como acontece com por exemplo Anne Coulter, hoje já não tão jovem, mas ainda charmosa, que profere os maiores impropérios contra as mulheres, mas que se transformou numa autêntica estrela mediática - a barbie da direita como outr@s, mais críticas, se lhe referem. É bom não esquecermos quais são os interesses económicos que detém os meios de comunicação social para percebermos porque é que estas mulheres tem um acesso tão fácil à comunicação social: quando se trata de bater nas feministas é muito mais credível que esse trabalho sujo seja feito por mulheres do que por homens, estes têm um interesse óbvio na matéria, as mulheres, aparentemente, não, o que confere ao seu testemunho um valor inestimável.
[1]Jean Hardisty: Mobilinzing Ressentement. Beacon Press, Boston, 1999.
[2] Jean Hardisty, Obra citada.

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