quinta-feira, 14 de maio de 2009

Opressão das mulheres: quando a Natureza substituiu a Teologia

A partir do século XVIII, com a secularização da sociedade e sua progressiva libertação da esfera de influência religiosa, poderia parecer que, a nível do discurso filosófico, deixariam de se utilizar argumentos religiosos para justificar a subordinação da mulher ao homem e a manutenção do status quo; e efectivamente foi isso que aconteceu. Todavia, não se conseguiram progressos significativos porque o que antes se justificava a partir da vontade divina passou a justificar-se com base na natureza, uma natureza que muito «natural» e convenientemente confinava a mulher aos papéis tradicionais e deixava inalterado o seu estatuto de menoridade intelectual e ética.

No Iluminismo, os argumentos bíblicos, com citações da Queda e do Pecado Original, foram substituídos por argumentos fundados na natureza: dizia-se que o facto de desde sempre, em todas as épocas e em todas as sociedades, se verificar a submissão das mulheres provava que essa situação, enquanto constante universal, decorria de uma lei da natureza. Desse modo, a substituição de Deus pela Natureza serviu às mil maravilhas para continuar a justificar a opressão das mulheres, sendo ainda por cima essa nova justificação dotada de uma base pretensamente científica de que os argumentos teológicos careciam. Por outro lado, os pensadores iluministas, embora enaltecessem a razão, tiveram o cuidado de dizer mais ou menos declaradamente que nesta capacidade as mulheres eram deficientes e, desta maneira, podiam alegremente defender a igualdade de direitos de todos os homens, excluindo de uma assentada metade da humanidade do usufruto desses direitos.


Toda esta história prova como a razão, aparentemente tão pura e imparcial, é capaz de nos ludibriar e até pode permitir defender o indefensável.

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