quarta-feira, 29 de abril de 2009

Madame de Stael ou … como as mulheres se deixam ludibriar …

Sugiro hoje como tema de reflexão o seguinte texto de Madame de Stael (1776-1817) que li em Mary Trouille «Sexual Politics in the Enlightenment»:
«Embora Rousseau tentasse impedir as mulheres de se imiscuírem nos assuntos públicos e diminuir a sua influência sobre as deliberações dos homens, como ele reverenciava a sua influência sobre a felicidade dos homens! Encorajava-as a desistirem do trono que tinham usurpado, mas colocava-as de novo no trono para o qual a natureza as tinha verdadeiramente destinado! E, embora se sentisse ultrajado quando as mulheres tentavam assemelhar-se aos homens, como as adorava quando se apresentavam perante ele com todos os encantos, fraquezas, virtudes e erros do seu sexo! Por isso, o seu perdão está garantido: ele acreditava no amor.»

Uma mulher culta e influente da época, como Madame de Staell, revela sentimentos ambivalentes em relação a Rousseau e parece não querer perceber como este só reverenciava as mulheres quando elas se punham no que ele entendia ser o seu lugar natural: a esfera privada da família. Para ele, quererem usufruir de direitos políticos e intervir na esfera pública era quererem assemelhar-se aos homens.
Stael não consegue reconhecer a misoginia de Rousseau disfaraçada sobre uma capa de pseudofeminismo, como ocorre ainda com frequência nos nossos dias com aqueles que consideram as mulheres adoráveis desde que sejam mulheres, isto é, desde que prescindam de direitos que, paradoxalmente, eles próprios consideram universais e inalienáveis.
O curioso é que Madame de Stael pela vida que levou esteve muito longe do modelo de fada do lar que Rousseau enaltecia: casou, pouca atenção deu aos filhos, teve vários amantes, foi animadora de um Salão parisiense, escreveu, numa palavra, teve uma vida pública intensa. Dela pode dizer-se o que se diz de S. Tomé: olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz!
Ou será que Stael, filha do influente e aristocrático Necker, alto funcionário das Finanças de Luis XVI, está apenas a contemporizar com as suas origens para melhor se conseguir movimentar num meio que lhe era hostil?

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