segunda-feira, 23 de março de 2009

África, o Papa e o preservativo

A visita do Papa a África e a insistência na proibição do uso do preservativo enquanto meio que poderia ajudar a prevenir a Sida vai à revelia de todos os conselhos das autoridades em saúde pública e pode ser vista como uma sentença de morte para as mulheres africanas.
Sabendo-se que 62 por cento das pessoas infectadas neste continente são mulheres - cifra que representa praticamente o dobro do número de homens, pode perguntar-se mais uma vez se a Igreja, como no caso da menina de Recife estuprada pelo padrasto, cultiva a compaixão e os sentimentos de benevolência e ternura pelos mais fracos ou se continua agarrada a princípios abstractos que pecam por serem retrógrados e se revestirem de consequências nefastas para a humanidade.
Como escreveu o director executivo da UNFPA (Fundo das Nações Unidas para a População) «As mulheres e as jovens são vulneráveis à Sida, não por causa do seu comportamento individual, mas por causa da discriminação e da violência que enfrentam e da desigual relação de poder em que se encontram.»
Mulheres e jovens dependem economicamente dos homens e são vítimas de práticas tradicionais baseadas na violência de género que se reflectem em violência sexual, violência doméstica, casamentos de crianças e de jovens raparigas com homens muito mais velhos, práticas poligâmicas e mutilação genital feminina. Deste modo as mulheres têm mais probabilidade de serem infectadas pelo HIV, mas não têm poder para exigir sexo seguro ou rejeitar relações sexuais.
Neste contexto, o encorajamento ao uso do preservativo poderia ser uma ajuda preciosa, mas o que vimos não foi isso: mais uma vez as entidades religiosas optaram por fazer ouvir uma voz, e o que é pior, uma «voz autorizada» que opina exactamente em sentido contrário.

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